Clerks

1994.

Os anos 90 — que o marketing insinua com um revival agora — foram uma época estranha em todos os sentidos. A moda foi um amálgama do pós-punk com o industrial que viria nos anos 2000. A música não sabia se caminhava pro pop comercial dos anos 2000 — era o início do advento das boy bands — ou se voltava os olhos para o indie rock dos caras como Radiohead. A política mundial não sabia lidar com a não-existência de uma Guerra Fria e de um inimigo definido. Tudo era turvo nos anos 90. E Clerks é o zeitgeist dessa turbidez.

Me lembro dos anos 90 de maneira muito peculiar: através dos meus primos mais velhos, uma vez que eu era uma criança e não conseguia entender muito bem aquela imagem de cansaço que todos passavam na época; cansaço que só fui entender mais profundamente alguns anos depois, quase uma década diga-se, quando eu estava naquele limbo dos 20 e tantos anos (faz um tempo já, inclusive) onde não se tem muito o que pensar, onde as opiniões externas tem peso de chumbo e onde seus pais parecem que fazem tudo errado (ainda que sem o peso da rebeldia sem rumo da adolescência) e, numa noite depois de muita insônia assisti finalmente Clerks.

Para além do humor rápido e das milhares de tiradas sarcásticas que o filme de estréia do Smith consegue, a atmosfera que ele passa é exatamente o que se tem em mente quando se tem 20 e tanto anos, e a estética em, preto-e-branco ajuda nessa sensação de despersonalização que o filme quer passar — ainda que isso seja, ao final, uma mensagem do tipo "todo mundo está assim não se sinta nem um merda e nem muito especial".

A verdade é que essa aura derrotada é a aura dos anos 90 e de quem fez dele a sua década e é nisso, em captar essa incapacidade de sair do lugar, que Clerks se faz diferentes e bom, muito bom.